Balaque e Balaão

06/06/2011 16:31

BALAQUE E BALAÃO

Números, capítulos 22 a 24

Israel, tendo conquistado a maior parte do território ao leste do Jordão, acampou nas campinas de Moabe. Eram as terras que os moabitas haviam perdido para os cananeus, e os israelitas haviam depois conquistado para si. Os moabitas continuavam a habitar o resto do seu território, ao sul.

O rei dos moabitas, Balaque, ficou muito apreensivo com as vitórias dos israelitas e com o seu grande número, e angustiado porque representavam um perigo para o seu próprio povo. Não podia entrar em guerra contra eles porque eram mais poderosos, e procurou então uma solução "espiritual": contratar os serviços de um profeta famoso chamado Balaão, que morava na distante Caldéia, para amaldiçoar os israelitas, assim permitindo que Balaque depois os pudesse vencer em batalha.

Balaão é o profeta venal típico, mercadejando com o seu dom. Este é o "caminho de Balaão" (2 Pedro 2:15) que caracteriza os falsos ensinadores. O "erro de Balaão" (Judas 11) foi que ele não compreendia que o povo de Israel havia sido redimido pelo SENHOR, mas via apenas um povo como outro qualquer; os falsos ensinadores também erram quando não levam em conta que Deus é justo e justificador dos que crêem em Cristo (Romanos 3:26). A "doutrina de Balaão" (Apocalipse 2:14) trata do seu conselho a Balaque para que corrompesse o povo, que ele não podia amaldiçoar (Números 31:16, 25:1-3; Tiago 4:4).

Balaão conhecia o Deus verdadeiro, embora também recorresse a augúrios (v.7, cap. 24:1) e adivinhações (Josué 13:22). Tendo recebido o pedido dos mensageiros de Balaque, ele esperou que o SENHOR o instruísse durante a noite sobre o que deveria dizer. E assim aconteceu: o SENHOR o instruiu claramente a não voltar com eles, nem amaldiçoar o povo, porque era povo abençoado (por Ele).

Balaão, obediente, recusou ir com os mensageiros explicando que o SENHOR recusava deixá-lo ir com eles.

Quando chegaram de volta à sua terra, e contaram o sucedido a Balaque, este logo concluiu que Balaão precisava de um incentivo maior. Mandou então uma comitiva maior, de gente mais importante, com o mesmo pedido e oferecendo lhe dar tudo o que ele quisesse.

Balaão disse que mesmo que Balaque lhe desse sua casa cheia de prata e de ouro, ele não poderia desobedecer o mandado do SENHOR seu Deus. Ele já havia recebido uma mensagem bem clara do SENHOR na vez anterior, mas ele deve ter tido alguma esperança que o SENHOR abrandasse sua proibição, porisso pediu que os moabitas esperassem até a manhã seguinte para que ele soubesse o que o SENHOR lhe diria.

O SENHOR compreendeu o dilema que atormentava Balaão (ele queria ir com os moabitas) e permitiu que fosse com eles, desde que eles viessem chamá-lo, e que somente falasse o que o SENHOR lhe dissesse. Deus também muitas vezes nos permite fazer aquilo que queremos, mesmo quando não é o Seu desejo, mas tenhamos cuidado, porque teremos que arcar com as conseqüências!

Mas Balaão não esperou os moabitas: logo de manhã ele albardou a sua jumenta e foi-se com eles. O SENHOR se irou por isso e interveio no caminho, como lemos no episódio extraordinário da jumenta. Era uma questão de obediência: a permissão do versículo 20 era um teste no qual Balaão falhou. Ele havia escolhido fazer o que ele próprio desejava, para o seu próprio proveito, amando o prêmio da injustiça.

É o que acontece com os falsos profetas (2 Pedro 2:15-16). Infelizmente muitos líderes cristãos hoje em dia, bem como entidades que se consideram evangélicas, também são motivados pela recompensa financeira sobre tudo.

Quando o Anjo do SENHOR falou com Balaão, ele reconheceu o seu pecado, e até ofereceu voltar. Mas o Anjo do SENHOR permitiu que ele continuasse, mas que só falasse aquilo que o SENHOR lhe dissesse.

Balaão continuou o seu caminho, e Balaque foi ao seu encontro, até a fronteira do seu território, o rio Arnom. Balaque presumiu que a vinda de Balaão significava que ele amaldiçoaria Israel, mas Balaão preveniu a Balaque que só falaria as palavras que o SENHOR pusesse em sua boca: era uma declaração habilmente inócua, pois Balaão sabia que o SENHOR não permitiria que ele amaldiçoasse Israel, mas não queria dizer isto a Balaque.

Os dois foram, com suas comitivas, a Quiriate-Huzote onde comeram uma boa refeição. Na manhã seguinte subiram ao alto de um monte de onde podiam ver um pouco do acampamento dos israelitas do outro lado da fronteira.

Neste local, Bamote-Baal (altos de Baal), fizeram sete altares e sacrificaram um novilho e um carneiro em cada um. O SENHOR encontrou-se com Balaão e pôs-lhe a palavra na boca. Ele então afirmou (em resumo) que Israel não podia ser amaldiçoado, pois era uma nação separada de todas as demais e um povo tão grande que mesmo a quarta parte do que ele podia ver não se podia enumerar, e que ele desejava poder morrer partilhando das bênçãos de Israel. Não era, de forma alguma, o que Balaque queria que ele dissesse, e Balaque não gostou.

Depois de fazer seu protesto, Balaque levou Balaão para o cume de Pisga, no campo de Zofim, de onde podiam ver outra parte do acampamento dos israelitas. Novamente fizeram sete altares e ofereceram um novilho e um carneiro sobre cada um. Pela segunda vez o SENHOR encontrou-se com Balaão e pôs-lhe a palavra na boca. Transmitindo essa palavra, Balaão disse a Balaque que o SENHOR havia abençoado a Israel, portanto ele não podia ser amaldiçoado, pois o SENHOR cumpre as suas promessas; que Deus não havia visto iniqüidade ou desventura naquele povo, e que os israelitas agiam com o poder de Deus, não valendo encantamento ou adivinhação contra ele. Balaque se desgostou mais ainda e disse a Balaão para não amaldiçoar mas também não abençoar Israel.

Balaque, apesar disto, perseverou e levou Balaão para o cume da montanha de Peor. Novamente construíram sete altares e sacrificaram um novilho e carneiro em cada um, mas Balaão não foi procurar a palavra do SENHOR como das outras vezes, pois já não tinha mais dúvidas de que deveria realmente abençoar a Israel. O Espírito de Deus então veio sobre ele, e ele profetizou de olhos abertos, ou seja, com perfeita visão espiritual.

Em sua profecia, ele prevê as vitórias de Israel sobre os seus inimigos, sua prosperidade, seu domínio, terminando com as palavras benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem. Balaque desta vez se enfureceu, mandando que fosse embora e afirmando que não lhe pagaria nada por causa da sua obediência ao SENHOR.

Balaão lembrou-o de que havia advertido seus mensageiros que mesmo que Balaque lhe desse sua casa cheia de prata e ouro, ele somente falaria as palavras que lhe fossem dadas pelo SENHOR. Prosseguiu, ainda, em sua profecia, predizendo a vinda do rei de Israel e a vitória sobre Moabe, Edom, Amaleque e os queneus, o cativeiro assírio de Israel e sua aflição por povos do Mediterrâneo. Em seguida ele partiu de volta para sua terra, e Balaque voltou pelo seu caminho.

Nas profecias de Balaão, Deus dá testemunho a favor do Seu povo ao invés de dá-lo contra ele, como das outras vezes. Esse testemunho é devido à sua posição como povo redimido por causa da serpente de metal que foi levantada, e da água procedente da rocha que fora ferida. O povo pecava (capítulos 20:11, 21:5-9) e Deus o disciplinava, mas não o submetia à condenação. A interpretação das profecias é literal quanto a Israel, e figurativa para o crente. Porque Cristo foi levantado (João 3:14), a posição do crente é segura e perfeita eternamente, embora seu comportamento possa exigir a disciplina do Pai (1 Coríntios 11:30-32; 2 Coríntios 1:4-13); todavia Deus é por ele, contra todos os inimigos (Romanos 8:31).